Valdemarte

desenhar escrever criar pensar

sábado, 10 de outubro de 2009

Câmera escura

Faz algum tempo que sabia como transformar o quarto em câmera escura. Casualmente já havia percebido a formação de imagens no teto a partir da luz que passa entre a fresta de duas cortinas. Mas a imagem fica mais nítida quando controlamos a entrada da luz, vedando totalmente a janela e deixando apenas um pequeno buraco para que a luz externa possa projetar-se no ambiente interno. Os raios de luz, ao passarem pela pequena abertura, formam uma imagem invertida em ambos os sentidos: vertical e horizontal. Isto acontece porque os raios de luz não mudam de direção ao passarem pela abertura. A imagem que se forma espalha-se por todo o quarto, do chão ao teto. No improviso, obtive essas fotos com minha limitada câmera digital. Vale a pena realizar a experiência.




domingo, 20 de setembro de 2009


Isto não é uma moto! É um desenho feito da lembrança que tenho da minha moto. Mesmo que o tivesse realizado por observação, ainda não seria uma moto. Este é um pretexto para falar do quadro de René Magritte, "Isto não é um cachimbo". A pintura de um cachimbo não representa um cachimbo, mas emite um signo da matéria pintura. Toda matéria está cheia de signos, mas não codificados. O signo está sempre aberto. Está entre a afecção da matéria extensa e a imagem virtual que o decifra. Remete ao signo de um objeto que foi esculpido a partir de uma peça de madeira, sendo que a imagem da madeira só é possível depois do corte da árvore. A matéria vincula-se à memória, à lembrança do que foi percebido. Sem imagem não se apreende a matéria. É por meio de imagens que se toma conhecimento do mundo material. A imagem virtual incide sobre a matéria, mas não lhe restringe as possibilidades de criar significados. Nessa perspectiva, a imagem é algo que se reconhece no mundo real e está vinculada à memória, à lembrança que se tem de algo, como atualização da matéria no plano do pensamento, independentemente de sua presença real. A partir da perspectiva de Bergson, não existe matéria sem imagem. Não só isso, imagens criam matéria. A matéria é tudo o que existe em extensão. Imagem não é uma representação, mas é o que se forma entre a lembrança virtual do passado e a percepção atual. Está entre a matéria e a representação.

domingo, 12 de julho de 2009

Fotografia Pinhole


Pinhole

ou foto na lata.

Uma lata feito câmera escura.

Um meio para congelar uma imagem,

registrando no papel fotográfico a luz que passa

através de um orifício feito com agulha no papel alumínio

fixado na lata, como um curativo.

A cada foto, uma surpresa.

Deixar-se surprender, testar e tentar quantas vezes forem necessárias.

Exprerimentação pura. Tornar uma imagem possível, ainda que tomando chuva, quase no escuro. Fazer do movimento das coisas que passam um fantasma, uma fantasia. Fotografar às cegas e revelar a imaginação. Quem participa da oficina até o fim é surpreendido com os resultados, quase todos imprevistos, mas incessantemente buscados. Fotografia pinhole é assim tão simples e complicado. A cada edição, uma nova experiência.

sábado, 13 de junho de 2009


Pop art
da propaganda na rua para a propaganda no salão
destituição dos mistérios
celebridades não existem
artistas não são imagens
indiocracia, é inútil evitar

Frágil


Frágil como o papel,

potente como a vida.

A arte é a boa saúde.

Quem desenha ou escreve

é um médico e não um doente.

Trata-se de curar-se a si mesmo

e redesenhar o mundo.

domingo, 10 de maio de 2009


Como surge um texto? Não raras vezes, começa-se esvaziando gavetas. Sim, dessas de escrivaninha, ou atualmente das pastas esquecidas no hard disk. Escrever também é um ato de revisitar o que foi esquecido, mas que um dia exprimiu afectos. A escrita cria um corpo, ao mesmo tempo em que é incorpórea. Ela é um devir, não um estar aí. Se potente, é capaz de suscitar anjos e demônios. Assim são as palavras. As palavras e as ideias são lentes que possibilitam ver, mas também podem cegar. Ao ter a ideia de teia ou rede, vê-se a vida como rede ou como teia. Ao ver a vida de forma banal, vê-se e sente-se as coisas desse modo. Escrever, portanto, é jogar com as palavras e com o pensamento. Antes das palavras, no entanto, está a própria vida. O movimento que se faz, o que se diz, o que se escolhe faz o ser e não o contrário. Através das palavras, pensa-se o pensar e sente-se o que se sente. Escrever é dobrar-se sobre as palavras e fazer delas uma aventura.

domingo, 3 de maio de 2009

Como fugir da falsa admoestação de si mesmo? A vida não precisa ser negada para ser afirmada. Se alguém aspira a alguma verdade, não vai encontrá-la em uma pessoa nem em si e nem em coisa alguma. A verdade não é algo que se possa possuir ou reter. Se é que alguma verdade possa ser dita em alguma circunstância aceitável, ela sucede ao sentido, jamais o contrário. Viver o sentido que se vive não tem nada a ver com o verdadeiro e o falso, mas apenas com a vontade de uma vida. Nada de sacrifícios e nem catarses, apenas celebração e afirmação da vida.

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Porto Alegre/Novo Hamburgo, RS, Brazil
Professor de arte,Teólogo, Ilustrador