desenhar escrever criar pensar

domingo, 10 de maio de 2009


Como surge um texto? Não raras vezes, começa-se esvaziando gavetas. Sim, dessas de escrivaninha, ou atualmente das pastas esquecidas no hard disk. Escrever também é um ato de revisitar o que foi esquecido, mas que um dia exprimiu afectos. A escrita cria um corpo, ao mesmo tempo em que é incorpórea. Ela é um devir, não um estar aí. Se potente, é capaz de suscitar anjos e demônios. Assim são as palavras. As palavras e as ideias são lentes que possibilitam ver, mas também podem cegar. Ao ter a ideia de teia ou rede, vê-se a vida como rede ou como teia. Ao ver a vida de forma banal, vê-se e sente-se as coisas desse modo. Escrever, portanto, é jogar com as palavras e com o pensamento. Antes das palavras, no entanto, está a própria vida. O movimento que se faz, o que se diz, o que se escolhe faz o ser e não o contrário. Através das palavras, pensa-se o pensar e sente-se o que se sente. Escrever é dobrar-se sobre as palavras e fazer delas uma aventura.

domingo, 3 de maio de 2009

Como fugir da falsa admoestação de si mesmo? A vida não precisa ser negada para ser afirmada. Se alguém aspira a alguma verdade, não vai encontrá-la em uma pessoa nem em si e nem em coisa alguma. A verdade não é algo que se possa possuir ou reter. Se é que alguma verdade possa ser dita em alguma circunstância aceitável, ela sucede ao sentido, jamais o contrário. Viver o sentido que se vive não tem nada a ver com o verdadeiro e o falso, mas apenas com a vontade de uma vida. Nada de sacrifícios e nem catarses, apenas celebração e afirmação da vida.

sábado, 2 de maio de 2009

Parecer


Sobre as linhas duras e bem delineadas da vida, não existe um corpo que possa ser esperado. Quanto mais se avança, mais se perde e não há em quem se possa lançar a culpa. O corpo trilha um caminho que não tem volta. No dizer de Fitzgerald, nunca mais seremos aquilo que já fomos um dia. É somente na ruptura com as segmentariedades duras do “eu” que um novo corpo pode se in-corporar. Ao perder-se na cartografia, ao traçar rotas em fuga, descobre-se que o “eu” que esperava já estava morto. No fim, nem vitória, nem derrota, nem produção de semelhanças à vida.

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Porto Alegre/Novo Hamburgo, RS, Brazil
Professor de arte,Teólogo, Ilustrador